Entrevista de Simão ao jornal ojogo
publicado por joaorsilva

Há quem diga que se pode mudar de tudo: de mulher, de carro e de casa, mas nunca de clube. No caso de Simão não é bem assim. Era sportinguista em pequenino, mas foi tão bem tratado no Benfica que levou o clube no coração quando deixou a Luz para assinar um contrato de quatro anos pelo Atlético de Madrid, onde está feliz.

Já comprou casa perto da cidade desportiva dos “colchoneros”, mas enquanto não está pronta vive numa unidade hoteleira. Foi lá que falou a O JOGO. Numa conversa franca e aberta, mostrou as suas qualidades de extremo rápido e tecnicista na hora de falar do departamento médico do Benfica e do episódio da braçadeira de capitão que José António Camacho entregou a Hélder. Fintou as perguntas com a mesma habilidade com que se prepara para encantar e triunfar no futebol espanhol.

O que sente por ter sido o jogador mais caro do Benfica – custou 12 milhões de dólares – e o maior encaixe do clube, já que o Atlético de Madrid pagou 20 milhões de euros?
Sinto-me orgulhoso. No início criticaram a minha contratação, por terem pago 12 milhões. O presidente Luís Filipe Vieira foi muito criticado, mas sempre acreditou nas minhas qualidades. Esta foi a prova que fui um bom negócio para o Benfica. Foram seis anos maravilhosos, durante os quais ganhei três troféus, fiz muitos jogos e muitos golos.

Não era possível ter continuado no Benfica?
Desde a primeira proposta que apareceu do Liverpool, o presidente deu-me a palavra que me deixava sair se aparecesse uma boa proposta para o clube e para mim. Queria um novo desafio, que surgiu agora, depois de também ter aparecido o Valência. Não saí nessas alturas e continuei a jogar da mesma maneira.

Significa que agora não ficaria contrariado?
Continuaria feliz no Benfica e continuaria a ser o mesmo Simão.

É benfiquista?
Sou. Aprendi a gostar do Benfica. No início não foi fácil, devido à ligação ao Sporting, mas aprendi a gostar e tenho um grande carinho pelo Benfica.

Não se sente dividido?
Tenho um respeito enorme pelo Sporting, um clube que também foi muito importante na minha carreira profissional e onde estão pessoas fantásticas, como o senhor Aurélio Pereira, o Mário Lino, o próprio treinador-adjunto do Paulo Bento, o Carlos Pereira, com quem falo muitas vezes, e o Paulinho. Tenho uma óptima relação com eles e sei que nunca duvidaram do meu profissionalismo. Respeito o Sporting, gosto do Sporting, mas neste momento o Benfica é meu clube.

Qual era o seu clube em criança?
Era do Sporting. Fui com 13 anos para o Sporting e era esse o meu clube.

“Camacho foi uma boa escolha”

Apesar de já não estar contratualmente ligado ao Benfica, Simão continua a interessar-se por tudo aquilo que diz respeito à sua antiga equipa. A demissão de Fernando Santos, por exemplo, deixou o antigo capitão benfiquista bastante surpreendido, isto independentemente de considerar que José António Camacho foi uma boa escolha.

Ficou surpreendido com a saída de Fernando Santos?
Fiquei surpreendido, ainda por cima porque foi depois da primeira jornada. Ele teve uma situação complicada, porque perdeu jogadores importantes como o Miccoli, o Karagounis, o Anderson, eu e o Manuel Fernandes. Estava a estruturar a equipa da melhor maneira, depois de perder jogadores importantes. Foi uma decisão da SAD e espero que tenha sido boa para o Benfica.

Qual era a sua relação com Fernando Santos?
Tenho uma óptima relação com o “mister” Fernando Santos. Conheço-o há um ano e criámos uma amizade muito grande. Desejo-lhe a maior sorte para o futuro e que posso treinar uma equipa brevemente.

Porque não havia empatia entre Fernando Santos e os sócios?
Não encontro explicação, mas há vários treinadores que não têm empatia com os sócios e são campeões. O próprio Trapattoni foi campeão e não havia grande empatia com ele. No Real Madrid aconteceu o mesmo com Capello. Foi campeão e acabou por sair.

José António Camacho foi uma boa escolha?
Foi uma excelente escolha. Trabalhei com ele. É um excelente treinador, tem uma boa relação com os jogadores e tem a vantagem de ser o treinador que os adeptos queriam. Quando assim é, acho que é uma boa escolha.

“Foi um orgulho ser capitão do Benfica”

A saída de Simão obrigou o Benfica a encontrar um novo capitão, recaindo a escolha em Nuno Gomes, que já era o sub-capitão dos “encarnados”.

Sente que foi um bom capitão do Benfica?
Tentei resolver os problemas e as situações que havia no balneário, e sinto que fui útil para alguns, para os que mais necessitaram. Para mim foi muito importante e um orgulho enorme ser capitão de um grande clube como o Benfica.

Foi difícil ser capitão do Benfica?
É difícil ser capitão em qualquer equipa, porque temos mais responsabilidades e os problemas caem todos em nós.

Nuno Gomes vai ser um bom capitão?
Tenho a certeza que o Nuno vai ser um bom capitão.

Rui Costa não podia ser o escolhido?
O Rui tem estatuto e tem passado para ser capitão, mas neste momento tem a ver com o número de anos no clube ou até pelo facto de o Nuno já ser o sub-capitão quando eu era o capitão. É normal que seja o Nuno o capitão, mas bem podia ser o Rui, sem qualquer problema. Para se ser capitão não é preciso ter a braçadeira.

O que se passou quando ficou desagradado por ter sido preterido por Hélder?
São coisas do passado. Estou num momento tão bom que não quero sequer pensar nessa situação.

“Liverpool? Fiquei apenas pelo aeroporto”

O Liverpool esteve para ser o destino de Simão, mas o negócio gorou-se, apesar de ter estado quase a concretizar-se.

Esteve dentro do avião para ir para o Liverpool?
Não cheguei a estar dentro do avião, fiquei pelo aeroporto (risos). Não viajei porque não tinha autorização do Benfica. Estava na Selecção e tive autorização do seleccionador e do Carlos Godinho para me ausentar. Saí às 7h30 da manhã e estava tudo feito, mas quando cheguei lá já não havia acordo. Não viajei porque não queria entrar em conflito com o Benfica.

Já tinha feito o "check-in"?
Não, porque era avião privado (risos).

O que sentiu ao fracassar a ida para o Liverpool?
É a vida. Infelizmente não me deixaram ir, mas havia que voltar à realidade e continuar a demonstrar o meu valor, sempre com a mesma vontade e a mesma alegria de jogar no Benfica.

É verdade que não foi para o Valência porque Luís Filipe Vieira lhe disse que não valia a pena assinar só para você ganhar mais 50 mil euros por ano do que ganhava no Benfica?
Não vou dizer que é mentira. Ele chegou a acordo com o clube, mas eu não cheguei a acordo com o Valência. Não tinha a ver se iria ganhar mais ou o mesmo, o que se passou foi que aconteceram outras situações que me desagradaram.

O quê, por exemplo?
É melhor não falar. Recordo apenas que o Jorge Mendes estava no estádio com o presidente do Valência e eu estava a jantar, depois liguei-lhe a dizer que não havia acordo e apanhámos o avião privado.

“Havia confiança”

O caso de Mantorras é o espelho fiel da confusão e da desconfiança que se instalou no departamento médico do Benfica. O médico Bernardo Vasconcelos deixou o clube e foi principal visado pela situação física em que se encontra o avançado. Mais recentemente, e noutro âmbito, foi o fisioterapeuta Rodolfo Moura quem decidiu abandonar o clube, ainda sem qualquer justificação oficial de parte a parte. Casos melindrosos, levando Simão a não se alongar muito no assunto, mesmo estando agora à distância.

Havia ou não confiança no departamento médico do Benfica?
Havia. Em todas as equipas há lesões e situações complicadas. Há é que saber ultrapassá-las.

Como analisa a saída de Rodolfo Moura?
Depois que ele saiu, e porque depois também fui eu que saí, ainda não tive possibilidade de falar com o Rodolfo sobre essa situação. Foi uma decisão pessoal, que temos de respeitar.

“Eu é que quis sair do Barcelona”

O extremo estranhou ter sido substituído no sábado, contra o Real Madrid, numa altura em que estava confiante e queria sempre a bola

Chegou ao Barcelona apenas com 19 anos, encontrou uma equipa formada e cheia de estrelas. Esteve em Camp Nou duas épocas, tempo suficiente para fazer 46 jogos só no campeonato, aos quais juntou sete na Taça do Rei e 16 nas competições europeias. Queria jogar mais e ingressou no Benfica. Seis anos depois volta a Espanha, agora para representar o Atlético de Madrid.

Qual é a diferença entre o Simão que chegou ao Barcelona e aquele que assinou pelo Atlético de Madrid?
A diferença está na maturidade. Cheguei lá com 19 anos e estava numa fase de formação. Quando fui para o Barcelona encontrei jogadores com estatuto e eu estava à procura desse estatuto. No primeiro ano foi complicado e no segundo foi muito positivo. Ao contrário do que as pessoas pensam, eu é que quis sair do Barcelona, não fui dispensado. Queria jogar mais. No Atlético estou mais maduro, experiente e chego aqui com nome. Chegar com estatuto é muito importante para começar uma nova etapa.

No final do jogo com o Real Madrid disse que em Espanha vai ter de mostrar o valor, ao contrário do que acontecia se tivesse ficado no Benfica. Porquê?
No Benfica já todos sabiam o meu valor e eu só tinha de manter o meu rendimento, o que também não é fácil, mas no Atlético estou a começar uma nova etapa. Tenho de mostrar valor e só depois manter esse rendimento.

Tem medo de falhar?
Não. Medo não existe no meu dicionário, até porque desde muito jovem procurei ser profissional de futebol. Sempre tive grandes obstáculos e consegui ultrapassá-los. O que sinto é responsabilidade e sei que muitas pessoas estão de olho em mim, mas isso também faz com que queira trabalhar mais.

O que sentiu ao sair aos 63 minutos, quando estava a subir de rendimento?
Naquele momento estava bem. Comecei muito bem a segunda parte e nas oportunidades que tive de um contra um com o Sérgio Ramos, fui embora em todas. Estava confiante, queria mais e queria sempre a bola. Não percebi a substituição, mas respeito, porque é ele o treinador e há outros jogadores que também querem justificar a contratação. Agora, sei é que é nas segundas partes que me sinto melhor, sinal de que estou bem fisicamente.

Tentou pouco o remate. É uma questão de falta de confiança?
Nada disso. Tem a ver com as circunstâncias de jogo. Houve um lance, na primeira parte, em que fui para dentro e podia ter chutado, mas tentei tabelar com o Forlán, porque apareceram no caminho Robinho e o Pepe. Tem a ver com a decisão naquele momento.

Significa que não está no Atlético de Madrid apenas para fazer assistências, mas também para marcar muitos golos?
Exactamente. Estou aqui para dar a marcar, mas também para marcar.

Também vai marcar os penaltis?
Quem marca os penaltis é o Maxi [Rodriguez], mas o treinador disse que quando ele não se sentir bem sou eu a marcá-los. Pouco a pouco vou conseguindo esse estatuto de marcador dos penaltis, mas esse também não é um problema, porque no Benfica aconteceu algo semelhante com o Katsouranis. Era ele que marcava os penaltis na selecção grega e no AEK, só que quando chegou ao Benfica eu continuei a marcar os penaltis.

"Quero mostrar quem sou para que me admirem”

Actualmente com 27 anos – completa 28 no dia 30 de Outubro -, Simão assinou pelo Atlético de Madrid por quatro anos, mas não descarta voltar a dar um salto na sua carreira.

Porque assinou um contrato tão longo?
Custei 20 milhões de euros e não podia assinar um contrato de dois anos. O Atlético não deixava. Na altura eles falaram-me de cinco anos, mas assinámos por quatro.

Vai acabar por aqui?
Não quero e não posso ficar acomodado, mas para querer mais, tenho de chegar ao mesmo nível, continuar a jogar, ganhar e marcar golos. Não estou aqui a pensar sair, e seria incorrecto da minha parte se isso acontecesse. Mas estou aqui para ser o mesmo Simão. Se houver oportunidade de sair, cabe ao clube decidir, mas neste momento quero mostrar quem sou para que passem a admirar-me.

Há condições para o Atlético de Madrid ser campeão?
Não é fácil, mas o objectivo é andar sempre nos três primeiros lugares e depois tudo pode acontecer…

Entrevista de Simão Sabrosa ao jornal ojogo.

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